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Sodoma e Gomorra e a intercessão de Abraão – Desafiando Deus?

O grande diálogo entre Abraão e Deus em Gênesis 18 é um ponto de mudança na história do mundo da fé.

Pela primeira vez, um ser humano “desafia” Deus sobre o conceito de justiça. Sabendo sobre a iminente destruição de Sodoma e das cidades da planície do Jordão Abraão diz:

“E chegou-se Abraão dizendo: Destruirás também o justo com o ímpio

Se porventura houver cinquenta justos na cidade, destruirás também e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta justos que estão dentro dela?

Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” Gênesis 18:23-25.

Nunca havia acontecido algo semelhante antes, mas ainda assim não foi um fenômeno isolado. Era o nascimento do diálogo com os céus, uma discussão entre Deus e o homem, em nome da justiça.

Nós vemos este “desafio” acontecer novamente com Moisés, onde suas palavras iniciais em favor dos Israelitas, pareceram tornar o sofrimento do povo ainda pior:

“Então tornando-se Moisés ao Senhor, disse: Senhor! por que fizeste mal a este povo? Por que me enviaste?” Êxodo 5:22

Jeremias questionou a justiça e a história:

Justo serias, ó SENHOR, ainda que eu entrasse contigo num pleito; contudo falarei contigo dos teus juízos. Por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos os que procedem aleivosamente? Jeremias 12:1

Da mesma forma, faz Habacuque:

“Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? Por que razão me mostras a iniquidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio.” Habacuque 1:2-3

E este argumento se estende para além da bíblia, encontrando espaço até nas tradições rabínicas. Distante de suavizar os contornos dessas palavras afiadas como uma espada, a tradição as acentuam ainda mais, quando falam da “hutzpa kelapei shemaya”, “audacidade que vai de encontro com os céus”.

Mas como isso pode ser? Como seres humanos, finitos e falíveis podem desafiar Deus? E isto, não em oposição à fé, mas como parte da vida no mundo da fé! Porque é notável que Deus não considerou, de forma alguma, este argumento com sendo herético ou ateísta. Ao contrário, as escrituras chamam, aqueles que levantaram estas questões, de heróis da fé.

Assim, como pode Abraão a quem ele mesmo se descreve como mero “pó e cinza”, confrontar o “Juiz de toda a terra”, desafiando o veredito que foi dado ao povo de Sodoma? A resposta a esse fato, já havia sido dada pelo próprio Deus, nas palavras de um texto imediatamente anterior à intervenção de Abraão.

“E disse o Senhor: Ocultarei eu a Abraão o que faço, Visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra?

Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para agir com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado.” Gênesis 18:17-19

Aqui fica claro que este discurso divino é um convite a Abraão para falar. Este é o significado de “Ocultarei eu a Abraão o que faço?” E não é só um convite a Abraão para expressar a sua opinião. Deus, em seu discurso, traz antecipadamente, palavras que gostaria que Abraão usasse em seu argumento – “justiça (tzedek / tzedaka) e “juízo” (mishpat).

Justiça e juízo constituem “o caminho do Senhor”, que Deus quer que Abraão ordene e ensine aos seus filhos.

E Abraão em seu discurso, usa precisamente estas palavras. Ele utiliza a raiz tz-d-k sete vezes. Ele também utiliza a raiz sh-p-t duas vezes, no início e no final da sentença principal, “Não faria justiça (mishpat) o Juiz (hashophet) de toda a terra?

A resposta serve apenas para intensificar a pergunta. Deus parece querer que Abraão desafie o seu veredito. Mas, porquê? Será que Abraão sabia de algo que Deus não sabia? Ou o seu senso de justiça seria maior que o de Deus?

Essas duas sugestões são absolutamente absurdas! Deus sabe mais do que qualquer ser humano possa sequer imaginar! E a justiça divina é a única realmente justa e completa.

“Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é.” Deuteronômio 32:4

O princípio fundamental da Torah é que Deus reina regido por direito e não por poder. Deus não é somente ou meramente poderoso, Deus é ético, e a busca daquilo que é ético é o que traz Deus e a humanidade a um ponto comum, a aliança baseada na justiça e retidão.

O Povo de Sodoma e Gomorra

Então, o que Deus quer de Abraão? Porque Ele convida Abraão para um debate sobre o destino do povo de Sodoma? Não era possível que o veredito divino pudesse ser questionável, pois as escrituras deixam bem claro, por duas vezes, que eles eram grandemente culpados:

“Ora, eram maus os homens de Sodoma, e grandes pecadores contra o Senhor.” Gênesis 13:13

Note que há uma ênfase nesta sentença, os homens eram:

  • 1 – Maus;
  • 2 – Grandemente;
  • 3 – Pecadores;

No capítulo seguinte ao diálogo de Abraão, dois dos homens/anjos visitam Ló em Sodoma. E se forma a seguinte cena naquela noite:

“E antes que se deitassem, cercaram a casa, os homens daquela cidade, os homens de Sodoma, desde o moço até ao velho; todo o povo de todos os bairros. E chamaram a Ló, e disseram-lhe: Onde estão os homens que a ti vieram nesta noite? Traze-os fora a nós, para que abusemos deles.” Gênesis 19:4-5

O pecado deles – tentativa de estupro – tem em si mesmo múltiplas ofensas envolvendo:

  • 1 – Sexo proibido;
  • 2 – Violência; e
  • 3 – Violação do estrito código de hospitalidade no antigo oriente.

E há novamente três ênfases no modo como o texto fala dos envolvidos nesta história:

  • 1 – Eram todos os homens;
  • 2 – De todas as partes da cidade; e
  • 3 – Tanto os jovens como os velhos.

O que a Torah está nos informando, é que não havia “cinquenta” ou “dez” justos naquela cidade – os números que Abraão citou e que Deus concordou. Não havia nem ao menos um justo. Por isso que novamente perguntamos: Porque Deus fez este convite a Abraão, para este desafio?

A resposta em que eu creio, é que Deus está nos intimando a conhecer uma profunda verdade neste texto, que não se trata de um desafio humano a Deus, mas muito pelo contrário, trata-se de Deus desafiando a humanidade.

Deus quer que Abraão e seus descendentes sejam agentes da justiça, porque para que justiça seja feita, todos os lados tem que ser ouvidos. Tem que haver não só a acusação, mas também o advogado de defesa.

Isto é o que Deus quer de Abraão, que ele seja o advogado de defesa do povo de Sodoma, para argumentar o seu caso, e ser a voz do outro lado. E isto é o que Abraão faz. Justiça é um processo e não um produto. Não é suficiente a Côrte estar correta, ambos os lados tem que ser ouvidos. Justiça envolve diálogo, conversação e argumento.

Justiça envolve a habilidade de ver as coisas em diferentes perspectivas. Mesmo a justiça divina só pode ser justiça se houver o direito de defesa da outra parte.

E Deus chama a Abraão e os profetas que vieram após ele para esta missão arquétipa do supremo advogado. Esta é uma verdade extraordinária: Deus precisa do ser humano para ser seu parceiro na administração da justiça.

Por isso mesmo, que da descendência de Abraão surgiu aquele que é a voz constante junto ao Pai, que intercede por nós, para que sejamos inocentados na côrte celestial de justiça. Defesa esta, feita por um “homem”, Jesus Cristo homem.

“Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.” 1 Timóteo 2:5

Abraão não pôde, mesmo com toda a sua justiça, livrar os moradores de Sodoma do seu veredito. Mas há um advogado supremo que tem esse poder de nos salvar da ira vindoura. Salvação preparada para todos aqueles que creêm no seu nome, e que confessam à Ele os seus pecados e os deixam.

Essa é a voz dissidente nos céus, do qual Abraão foi figura tipológica. Se há um acusador, graças a Deus que há também defesa disponível para todo aquele que por Ele clamar.

“e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.” 1 João 2:1

O grande diálogo entre Abraão e Deus em Gênesis 18 é um ponto de mudança na história do mundo da fé. Pela primeira vez, um ser humano "desafia" Deus sobre o conceito de justiça. Sabendo sobre a iminente destruição de Sodoma e das cidades da planície do Jordão Abraão diz: "E chegou-se Abraão dizendo: Destruirás também o justo com o ímpio Se porventura houver cinquenta justos na cidade, destruirás também e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta justos que estão dentro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o…

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One comment

  1. Andressa Souza

    Recebo eih nome de Jesus Cristo

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