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Santidade de acordo com a Bíblia

“E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo [ goy kadosh ]. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel.” Êxodo 19:6

Santidade+(1)

Mas o que seria exatamente a santidade, de acordo com a Bíblia?

De que forma a santidade se relaciona, não apenas a uma só pessoa, mas a todos nós como povo de Deus?

Rudolf Otto, Teólogo Alemão, autor do livro The Ideia of the Holy, definia a santidade como mysterium tremendum et fascinans, o senso de estar na presença de algo vasto e inspirador. Eliezer Berkovits, rabino e teólogo, afirmava que a palavra santo estava ligada mais com o envolvimento de Deus com o ser humano do que com Seu mistério propriamente dito.

Mas essas explicações não são profundas o suficiente para nos esclarecer sobre o real significado da santidade. É muito significante que a palavra santo / santidade, aparece pela primeira vez na Bíblia estando relacionada ao Shabbat, o sábado; e pela segunda vez, estando relacionada ao compartimento interno do Tabernáculo, chamado de Santo dos Santos.

É neste contexto que podemos de uma melhor forma aprendermos sobre a santidade, quando ela é aplicada à vida do povo como um todo e também de forma individual.

Antes de mais nada, caro leitor, gostaria de esclarecer de antemão que não sou sabatista, e não prego a guarda do sábado da forma literal como alguns pensam. Não quero neste estudo passar a impressão de que a lei do sábado judaico é algo que se refere a nós.

Mas para podermos entender o termo Santo e a Santidade, é preciso que compreendamos o novo sentido que a graça de Jesus deu ao sábado. Ele como o novo Legislador de uma nova aliança, tem a autoridade para ampliar o sentido da Lei, como o fez no Sermão do Monte.

O Sábado Simboliza a Santidade

Um dos mais importantes conceitos que o herdamos do Judaísmo é a ideia do צמצום tzimtzum, a “contração ou auto-restrição divina”, envolvida no ato da criação do universo. O próprio conceito da criação envolve um paradoxo.

O conceito por trás da auto-restrição divina é a percepção da contradição entre o finito e o infinito. Porque se Deus está em todos os lugares, como pode algo mais existir além Dele?

A palavra hebraica para “espaço” e “tempo” é עוֹלָם olam, que significa universo – a totalidade do espaço – e “eternidade” – a totalidade do tempo. Olam também significa “escondido”, “oculto”.

Por isso, dentro da cultura hebraica encontramos a ideia de que espaço e tempo são dimensões do elemento oculto de Deus, pois Ele está em uma dimensão que vai além do espaço e do tempo, ninguém pode vê-lo.

Porém, se Deus estivesse totalmente oculto, este universo não se sustentaria:

“O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder” Hebreus 1:3

Ao mesmo tempo, de forma semelhante, a presença total de Deus neste mundo ameaçaria a existência de todas as coisas:

“E disse mais: Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá.” Êxodo 33:20

De que forma então Deus poderia se revelar a este mundo, e como a santidade estaria envolvida nesta revelação? A Torá traz uma resposta que é simples e ao mesmo tempo profunda, que encontramos bem no início da Criação.

O universo foi criado em seis dias, ainda que a Criação tenha levado sete dias ao todo. O sétimo dia, porém, foi declarado por Deus como “santo” – significando simbolizar a “janela”, o meio pelo qual nós podemos “ver” a presença de Deus. Como nós faríamos isso? Renunciando a nós mesmos como “criadores”.

Novamente digo que este é um tema de difícil entendimento, relembro que não me refiro ao sábado da “folhinha”, do calendário semanal – isto é algo muito pequeno e limitado. Falo de algo maior. Mas acompanhe com atenção a explicação que você entenderá.

No שַׁבָּת Shabbat, sábado, todo מְלַאכְתּ֖וֹ melakha, trabalho criativo, era proibido. Há duas palavras utilizadas para o termo “trabalho” no Antigo Testamento:

  • Avodah עֲבֹדָה – que descreve um trabalho dificultoso, árduo, geralmente feito por servos ou escravos; e
  • Melakha מְלַאכְתּ֖וֹ – Trabalho criativo, que envolve habilidade específica, como o trabalho realizado por um artesão.

O trabalho que Deus descansou é o Melakha – o trabalho criativo, no sétimo dia:

“E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra – Melakha מְלַאכְתּ֖וֹ -, que tinha feito.” Gênesis 2:2

Por isso, no shabbat, nós nos tornamos mais passivos do que ativos. Nos tornamos criaturas e não criadores. Nós renunciamos à nossa criatividade, para podermos experimentar o Criador. O sábado é o “espaço”, o “tempo” que fazemos para Deus na nossa vida.

Veja como era o caso do Tabernáculo. Era essencialmente uma tenda portátil, e, onde quer que fosse montada, definia um espaço separado, santo, para Deus. Dentro daquele espaço Deus era buscado e adorado.

As imensas e detalhadas instruções de como o Tabernáculo deveria ser construído, se assemelhavam aos inúmeras leis do sábado – simbolizando que nada no mundo da santidade tem iniciativa da parte humana.

Para entrar no lugar santo, tem que se renunciar à criatividade humana e existencialmente se abrir para a Criatividade divina. Foi por isso que Nadabe e Abiú morreram, por que tiveram uma iniciativa criadora que não lhes era lícita, pois estavam no domínio da santidade.

E no domínio do sábado, isto é, da santidade, somente Deus é o Criador:

“E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o SENHOR, o que não lhes ordenara.

Então saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor.” Levítico 10:1-2

Nem todo espaço é sabático, nem todo espaço é santo, e Deus respeita isso, Ele vê com bons olhos o trabalho e a criatividade humana. É isso que a Torá quer dizer quando fala que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, pois como Ele, nós também somos criativos.

Mas Deus nos convida a trazer o sábado, a santidade, para cada aspecto da nossa vida. Santidade é o espaço que nós fazemos para Deus. Santidade está para a humanidade como equivalente ao tzimtzum, a auto-restrição ou a renúncia divina.

O Próprio ato da Criação envolveu renúncia. Para que o homem recebesse o seu “poder” criativo – o uso da linguagem e da fala, a capacidade de pensar e se comunicar, entender, imaginar o futuro e fazer escolhas – Deus teve que criar mais do que um homo sapiens.

Ele teve que permitir que houvesse espaço para as ações humanas. É algo que expressa um profundo amor e generosidade. Assim, o ponto em que podemos experimentar a presença de Deus é a renúncia de si mesmo.

Assim como Deus, por meio de um ato de auto-limitação, criou espaço no universo para as ações humanas, assim o homem tem que renunciar a si mesmo e abrir um espaço para Deus, em seu coração e na sua prática de vida.

“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me;” Mateus 16:24

Essa é a atual e verdadeira interpretação do sábado. É um espaço ou tempo vazio, em nós mesmos, que somente Deus pode preencher. É quando o “Eu” fica silenciado. É o esvaziar-se de si mesmo. Uma figura marcante nas escrituras é a do vazo vazio, sendo preenchido por unguento puro.

Uma antiga tradição conta que quando o General Romano Pompeu invadiu Jerusalém e entrou no Templo, ele ficou impressionado que o lugar chamado de Santo dos Santos estava vazio. Ele esperava encontrar ali o mais sagrado de todos os ídolos de Israel.

Mas Pompeu achou apenas um “espaço vazio”. Espaço este que só Deus preenchia, uma vez ao ano, no יוֹם כִּפּוּר yom kippur, o dia do perdão.

Santidade é o espaço que abrimos para Deus falar em nós, quando renunciamos o nosso propósito e aceitamos a vontade divina, permitindo que haja espaço para o propósito divino em nossas vidas.

Uma Nação Santa

Este é o significado das palavras de Êxodo 19:6 – וְג֣וֹי קָד֑וֹשׁ goy kadosh – uma nação santa. No Sinai, os Israelitas se tornavam em nação, unidos pela palavra de Deus formavam um só corpo. A palavra goy, juntamente com sua cognata גויתו geviya, significa nação e corpo.

“Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros.” Romanos 12:5

"E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo [ goy kadosh ]. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel." Êxodo 19:6 Mas o que seria exatamente a santidade, de acordo com a Bíblia? De que forma a santidade se relaciona, não apenas a uma só pessoa, mas a todos nós como povo de Deus? Rudolf Otto, Teólogo Alemão, autor do livro The Ideia of the Holy, definia a santidade como mysterium tremendum et fascinans, o senso de estar na presença de algo vasto e inspirador. Eliezer Berkovits, rabino e teólogo, afirmava que a palavra…

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