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Amar Ao Próximo Como a Si Mesmo

A Tradição Oral é uma parte essencial para o nosso entendimento das Escrituras Sagradas, no que diz respeito à Lei de Deus.

Visto a grande quantidade de recomendações Bíblicas, que muitas vezes foram feitas em uma linguagem antiga, e difíceis de entender, se faz necessário um método claro e muito bem definido para a correta interpretação daquilo que estava no coração de Deus quando nos transmitiu a revelação de Sua vontade.

Nesse aspecto, a Lei Oral, também conhecida como a She’b’alPeh, lida com tudo aquilo que não está incluído no texto.

E um trecho, dos mais conhecidos de toda a Bíblia, “Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé,” Êxodo 21:24 – presente nos mais variados tipos de ditados populares, se constitui na essência dos valores registrados no Antigo Testamento, e como tal, é objeto que merece ser profundamente estudado e interpretado para poder se chegar ao sua verdadeira mensagem e significado.

“Olho por [תַּ֣חַת tachat] olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé,” Êxodo 21:24

E porque o texto Bíblico precisa da Tradição Oral para ser interpretado corretamente? Não estaria este fato afirmando que a Revelação de Deus é algo que precisa de algum tipo de “filtro” humano para poder ser transformada em palavras que expressem o coração da Sua Lei?

Eu diria que nem tanto, nem tão pouco. Não podemos ser tão diretos ou tão presos à letra da Lei, pois corremos o risco de cair no mesmo erro que os Fariseus da época de Jesus cometeram.

O fato é que a Revelação da vontade de Deus, na Sua Lei, é algo envolvido em mistérios, tão quanto o monte Sinai estava envolvido por nuvens. Quando falamos de Deus transmitindo a Sua palavra à humanidade, existe no meio desse processo o fator humano.

Sabendo da existência o fator humano na Revelação, não podemos vê-la como uma simples transmissão de palavras. Quando Deus entregou as Tábuas da Lei a Moisés, não era como a Presidente Dilma entregando o Troféu da Copa das Confederações ao Capitão da Seleção Brasileira.

Não era nada parecido a isto, pois a Revelação da Lei é algo que demanda muito mais interação entre o divino e o humano. Por todo o livro do Êxodo e nos demais que o seguem, vemos que Deus continua a revelar ao Seu povo, muitos outros estatutos e ordenanças.

Isto nos sugere que a Revelação é um processo constante, que vai se tornando mais claro à medida que a vida se desenvolve, permitindo que experimentemos a Palavra de Deus no mundo “real”.

Voltando a uma das mais familiares leis da Torá עַ֚יִן תַּ֣חַת עַ֚יִן ayin tachat ayin “Olho por Olho, Dente por Dente”, uma mais literal e pouco funcional tradução seria “Um olho sob (ou embaixo), um olho”, pois a palavra hebraica תַּ֣חַת tachat literalmente significa “embaixo”.

“E as águas prevaleceram excessivamente sobre a terra; e todos os altos montes que havia debaixo [תַּ֖חַת tachat] de todo o céu, foram cobertos.” Gênesis 7:19

Mas com a tradução de tachat “embaixo”, a frase perderia totalmente o seu sentido decisivo. Esta mesma palavra aparece no Antigo Testamento em diversas passagens, mas em outros contextos:

“E tornou Adão a conhecer a sua mulher; e ela deu à luz um filho, e chamou o seu nome Sete; porque, disse ela, Deus me deu outro filho em lugar de [תַּ֖חַת tachat] Abel; porquanto Caim o matou.” Gênesis 4:25

Embora a palavra tachat signifique “embaixo”, “sob”, ela também pode ser traduzida como “em lugar de”, “por”. No caso do nascimento de Sete, “em substituição” de Abel, seria a melhor tradução, como vemos na passagem do sacrifício de Isaque:

“Então levantou Abraão os seus olhos e olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado pelos seus chifres, num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de [בְּנֽוֹ תַּ֖חַת tachat] seu filho [beno].” Gênesis 22:13

Novamente, a melhor tradução para tachat, no texto de Abraão, é “em lugar de” e não “embaixo”. Isto nos dá uma pista para melhor entendermos como “olho por olho” se tornou um ditado tão popular. Será que existe uma tendência ideológica, ou mesmo teológica por de trás dessa tradução?

A conotação que “olho por olho” adquiriu com o passar do tempo, foi a de vingança, quando alguém que comete um crime de retirar o olho de alguém, deve ter o seu olho igualmente removido. Porém a Lei nunca quis que esse mandamento fosse interpretado dessa forma.

Retirar “um olho” de um oponente seria totalmente contra a Lei de Moisés, que era originalmente interpretada como “o valor de um olho em lugar de um olho”, sendo transmitida oralmente de geração em geração.

Mas se era assim tão simples a interpretação deste texto bíblico, por que a Torá simplesmente não declarou diretamente “se você ferir o olho de uma pessoa, deve pagar uma indenização equivalente ao valor de um olho”?

E esta não é uma formulação que não existe, pois há diversos exemplos de compensação monetária na Lei. Resumindo, o que “olho por olho” significa, e por que esta frase foi escrita assim, deixando espaço para interpretação e até mesmo para confusão do texto?

E se compararmos o tema do nosso estudo com os códigos que emergiam paralelamente no Oriente Antigo, o nosso problema só aumenta. O código mais conhecido da época é o de Hamurabi, que estabelecia o Lex Talionis, a lei de talião, que mandava literalmente remover o olho do inimigo.

A Lei de Deus, ao contrário, via o corpo humano como propriedade divina. Esta ideia está claramente presente na declaração feita pelo Rabino russo Shneur Zalman de Liadi, na obra Shulhan Arukh:

“É proibido ferir o corpo de um semelhante, mesmo que ele dê permissão para tal, pois uma pessoa não é dono do seu próprio corpo para permitir que seja ferido, ou que passe por qualquer tipo de dor ou sofrimento de qualquer tipo, mesmo que seja por falta de alimento ou água” Shulhan Arukh

Este pensamento da lei de Deus encontra eco nas palavras do Apóstolo Paulo, que por ser judeu conhecia bem que não pertencemos a nós mesmos:

“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?

Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” 1 Coríntios 6:19-20

E se o corpo pertence a Deus, e é proibido causar qualquer tipo de dor, tanto física como emocional, isso tornaria impossível interpretar “olho por olho e dente por dente” como a retirada de um órgão de um outro ser humano, como meio de punição.

Olho por Olho – Amar Ao Próximo Como a Si Mesmo

Mais do que servir como um guia para vingança, “olho por olho e dente por dente”, nos direciona a nos colocarmos na posição ou no lugar do nosso próximo. Porque veja que “olho por olho” é “Ayin tachat ayin”, “um olho embaixo de um olho” no original hebraico.

Algo que descreve o movimento simbólico de tomar o olho de alguém e pô-lo embaixo do olho de uma outra pessoa. Para que? Para poder compará-lo. Quanto vale o olho do nosso próximo? Seria possível quantificar esse valor em dinheiro?

Quanto vale o seu olho? É somente assim que poderemos valorizar a vida do nosso próximo. Eu só saberei quanto vale o olho de um semelhante, quando tentar analisar quanto vale o meu olho.

O meu é com certeza valiosíssimo para mim. E de semelhante forma é o do meu semelhante para ele. Portanto, o que eu não quero que aconteça comigo, não quero que aconteça com ele, pois o valor é equivalente, somos todos propriedade divina, e não de nós mesmos.

Ayin tachat ayin “Olho por Olho” – O mal que não quero pra mim, não posso querer ou mesmo permitir que chegue ao meu próximo. O que quero que os homens façam a mim, devo primeiro fazer aos homens. São simples palavras que demonstram um caráter sublime e justo acima de tudo, do nosso mestre Jesus:

“E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também.” Lucas 6:31

E o nosso Mestre, conforme a sua missão de completar a Lei, trouxe nesta mesma linha de interpretação, um complemento perfeito, a união da justiça e da misericórdia que estão presentes nas camadas mais profundas das escrituras como um todo:

“Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.

Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão.

Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.” Lucas 6:36-38

O que nos passa uma verdade fiel que se faz nesse mundo, a lei da reciprocidade. Isso só evidencia que nem tudo está escrito, biblicamente falando. A Bíblia, como muitos imaginam, não é um documento completo, lacrado em si mesmo, não.

Sei que parece herético falar assim, mas é preciso querer entender. Deus criou um livro vivo, onde a participação humana é essencial para a seu desenvolvimento e transmissão.

A palavra de Deus não pode ser vista como um conjunto de textos frios, engessados. É necessário envolvimento pessoal, estudando, interpretando e permitindo que haja renovação no nosso entendimento à medida que a palavra se aplica no desenvolver da vida.

Deus requer a nossa participação na criação da Sua Lei, por isso há pontos que permanecem aparentemente “com espaço”, para interpretações, para que o homem possa meditar, buscar e renovar o entendimento da palavra de Deus.

“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Romanos 12:2

A Tradição Oral é uma parte essencial para o nosso entendimento das Escrituras Sagradas, no que diz respeito à Lei de Deus. Visto a grande quantidade de recomendações Bíblicas, que muitas vezes foram feitas em uma linguagem antiga, e difíceis de entender, se faz necessário um método claro e muito bem definido para a correta interpretação daquilo que estava no coração de Deus quando nos transmitiu a revelação de Sua vontade. Nesse aspecto, a Lei Oral, também conhecida como a She'b'alPeh, lida com tudo aquilo que não está incluído no texto. E um trecho, dos mais conhecidos de toda a…

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