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A Travessia do Mar Vermelho

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Contada e recontada em diversas gerações, através dos séculos, tem sido fonte de inspiração para canções, poemas, sermões e pregações, em praticamente todas as culturas do mundo.

A Travessia do Mar Vermelho é uma das passagens mais conhecidas de toda a bíblia. Sem dúvida as palavras que Deus proferiu, quando respondia a oração de Moisés, se cumpriram integralmente:

“E eis que endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros” Êxodo 14:17

Com frases curtas, a Torá vai descrevendo os movimentos graduais que trouxeram os Israelitas e os Egípcios até as margens do Mar Vermelho. São momentos dramáticos, de muita provação, mas que exercitaram o crescimento da fé e da confiança no Deus que prometeu e não falhou.

Duas ferramentas muito importantes, que nos auxiliam na interpretação e entendimento desses eventos ocorridos no Mar Vermelho, a peshat (o sentido literal e direto do texto), e a midrash (o sentido simbólico dado pela tradição oral), pintam um fascinante e complexo quadro dessa magnífica travessia.

Faraó Persegue os Hebreus

“E aproximando Faraó, os filhos de Israel levantaram seus olhos, e eis que os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então os filhos de Israel clamaram ao Senhor.” Êxodo 14:10

Os estudiosos do Antigo Testamento, Sforno e Malbim, assim como outros, explicam que uma leitura cuidadosa do texto, revela a terrível cena que confronta os Israelitas às margens do Mar Vermelho.

Primeiro, dizia Malbim, “Faraó se aproxima”.

Em um primeiro momento, os Israelitas permanecem firmes em sua confiança de que Deus irá redimí-los. Depois, entretanto, “os filhos de Israel levantaram seus olhos” e perceberam que “os egípcios vinham atrás deles”.

Os Israelitas observam o vasto exército de Faraó cheio de ódio, prontos para se vingar dos seus antigos escravos. “E temeram muito”, essa visão dos exércitos egípcios, amedronta os filhos de Jacó e destrói a frágil fé que eles possuíam.

Sforno via esse temor do povo de Deus como resultado do seu mal preparo para enfrentar qualquer tipo de batalha, naquele momento. Um povo que fora escravo por mais de quatro séculos, acostumados à submissão, mesmo sendo mais numerosos do que os soldados egípcios, eram mais como uma multidão sem qualquer organização para o combate.

E Eles clamaram pelo socorro do Senhor!

“Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos, e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais os tornareis a ver.

O Senhor pelejará por vós, e vós vos calareis.” Êxodo 14:13-14

O Talmude descreve uma cena de muito tumulto, quando Moisés confronta o povo:

“Quatro grupos se formaram dentro do povo que estava às margens do Mar Vermelho. Um grupo exclamou: “Vamos nos jogar no mar.” O segundo grupo exigia, “Temos que retornar ao Egito!”

O terceiro grupo determinava, “Temos que enfrentá-los no combate!” O quarto grupo contendia, “Vamos orar para que eles caiam!”

Para aqueles que exclamaram, “Vamos nos jogar no mar”, Moisés respondeu: “Não temais; estai quietos, e vede o livramento do Senhor.” Para aqueles que exigiram, “Temos que retornar ao Egito”, Moisés respondeu, “porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais os tornareis a ver”.

Para o grupo que determinava, “Temos que enfrentá-los no combate”, Moisés respondeu, “O Senhor pelejará por vós”. E para aqueles que contenderam, “Vamos orar para que eles caiam”, Moisés determinou, “e vós vos calareis”.”

Aquele era um momento de crise inimaginável. Os Israelitas estavam paralisados e internamente divididos.

Essa é uma mensagem muito realística que o Talmude nos traz, pois vem sendo observado, por toda a história, que muito frequentemente nós provamos ser os nossos maiores inimigos, como povo de Deus, quando nos mostramos incapazes de nos unirmos em torno de uma ideia, um objetivo ou uma causa comum.

Tempo de Orar e Tempo de Agir

“O Senhor pelejará por vós, e vós vos calareis. Então disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem.” Êxodo 14:14-16

A Tradição Oral, com finalidade didática, novamente elabora um diálogo que teria ocorrido entre Deus e Moisés:

“Neste ponto da história, Moisés se deteve em uma longa, demorada oração. Então Deus teria dito: “O meu povo está prestes a se afogar no Mar Vermelho, e você ainda está orando?”

– “O que, então, eu deveria fazer?” – Perguntou Moisés. Deus teria respondido: “Dize aos filhos de Israel que marchem.”

Aqui, os autores da Tradição Oral querem passar uma importante mensagem que está no diálogo implícito, ocorrido entre Deus e Moisés: “Por que clamas a mim?” Há um tempo e lugar para tudo. Há momentos em que não podemos ficar em silêncio, paralisados, apenas aguardando uma intervenção divina.

Nós não podemos ficar esperando de Deus, sem ter iniciativa própria. “Diga ao povo que marche”, diga ao povo para se armar com as armas da fé e que se mova, e que prossiga em direção ao milagre! Há momentos que temos que orar, mas há momentos que devemos também agir.

E ter uma atitude de fé, agir confiando que o Senhor “abrirá um caminho” para nós, mesmo que seja no “mar” da vida e de suas dificuldades, provas e desafios.

“E tu, levanta a tua vara [ מַטְּךָ֗ mateh ], e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco.” Êxodo 14:16

A palavra vara é מַטְּךָ֗ mateh em hebraico, uma ferramenta de um pastor de ovelhas, feito de madeira, que simboliza sua autoridade para conduzir o seu rebanho. É como se Deus estivesse dizendo a Moisés para usar a autoridade que Ele já o tinha dado.

Estender as mãos fala de salvação e de vitória:

“E acontecia que, quando Moisés levantava a sua mão, Israel prevalecia; mas quando ele abaixava a sua mão, Amaleque prevalecia.” Êxodo 17:11

A autoridade divina combinada com o ato do estender as mãos, fez surgir um caminho, no meio do mar, para a salvação de Israel. Enquanto que as mãos estendidas no madeiro, a cruz, séculos depois de Moisés, criaram um caminho para a salvação de todos os homens, povos, tribos e nações.

Semelhante autoridade também nos foi dada, para resgatar e salvar os oprimidos pelo mal:

“Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada de modo algum vos fará mal.” Lucas 10:19

A Travessia do Mar Vermelho – Caminho Estreito

“E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas foram-lhes como muro à sua direita e à sua esquerda.” Êxodo 14:22

A partir deste versículo, a Tradição Oral e o Talmude descrevem uma cena bem diferente da maioria das versões pintadas em quadros e trabalhos artísticos, e mesmo dos filmes sobre o tema, do cinema moderno.

O texto indica que a passagem criada por Deus, no Mar vermelho, não foi uma avenida larga como costuma ser retratado, mas o caminho deveria ter sido o suficiente para cada Israelita, “como muro à sua direita e à sua esquerda”.

Se realmente a travessia do Mar Vermelho aconteceu assim, outra importante mensagem surge dos versos deste texto bíblico. Embora houvesse milhares de pessoas, uma multidão, cada Israelita entrou no mar sozinho, um após outro.

A coragem para caminhar em direção ao desconhecido é algo individual. Embora a passagem pelo mar é um evento público, o nascimento de uma nação, ainda assim cada Israelita experimenta, através daquelas águas, seu próprio renascimento pessoal.

O caminho para a salvação é estreito, é individual:

“E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” Mateus 7:14

Moisés Abre o Mar, Jesus Anda Sobre as Águas

Não podemos deixar de comparar aqui neste comentário, sobre estes dois eventos bíblicos magníficos. Ambos são belíssimos e nos trazem lições sobre o grande poder de Deus e de suas maravilhas.

Mas o que me chama a atenção nesta comparação é que o milagre operado por Jesus, embora fosse em uma proporção menor, em um sentido espiritual é infinitamente superior ao de Moisés. A travessia do Mar Vermelho foi um evento público, onde não só os Israelitas mas os Egípcios puderam ver literalmente a glória de Deus em ação.

Foi um evento visível a muitos, a uma nação inteira, que não deixava dúvidas. Um “cenário” envolto até mesmo em certo ponto, de “pirotecnia espiritual”. Luzes, coluna de fogo e a nuvem se movimentando, anjo, trevas, enfim, o mar se abre – que visão poderosa e magnífica não deve ter sido!

Embora Deus tenha se revelado de forma tão clara, tão pública, tão visível, ainda assim aquele povo não reteu, não guardou a sua aliança. Não deixaram que a fé penetrasse no íntimo do seu coração, pois isso é algo pessoal, que envolve intimidade com Deus.

E isso é comprovado um pouco mais a frente na história do Êxodo, no episódio em que Moisés ao se demora um pouco mais do que o previsto no monte Sinai, o povo constrói um bezerro de ouro e passa a adorá-lo, em um horrível ato de idolatria.

Já no milagre em que Jesus anda sobre o Mar da Galileia, não tinha tanta gente assim, não foi um evento da grandeza do Mar Vermelho em termos de expectadores. Não havia toda uma nação como testemunha. Ocorreu no máximo para os seus discípulos mais íntimos, aqueles que acreditavam no seu nome.

O milagre de Jesus é símbolo do seu próprio evangelho, pois assim é o evangelho – não vem com a aparência exterior, não necessita de sinais externos, pois o evangelho é algo que acontece na intimidade do ser.

O evangelho de Jesus trabalha no interior do homem, no íntimo do seu coração, trazendo reflexões, e transforma, traz mudança de vida. De forma que quem é alcançado pelo evangelho não precisa de ver mais nada – ele apenas crê.

E crê tudo pela fé, e pela fé uma vez alcançado, tudo pratica por meio dela, andando de fé em fé, porque no final o justo viverá não pelo visível ou palpável, mas tão somente pela fé.

“Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá pela fé.” Romanos 1:17

 

Contada e recontada em diversas gerações, através dos séculos, tem sido fonte de inspiração para canções, poemas, sermões e pregações, em praticamente todas as culturas do mundo. A Travessia do Mar Vermelho é uma das passagens mais conhecidas de toda a bíblia. Sem dúvida as palavras que Deus proferiu, quando respondia a oração de Moisés, se cumpriram integralmente: "E eis que endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros" Êxodo 14:17 Com frases curtas, a Torá vai descrevendo os…

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