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O Bezerro de Ouro e os Espias

O Êxodo 24 termina com Moisés subindo o Monte Sinai, entrando na nuvem, onde permaneceu por quarenta dias e quarenta noites.

No capítulo seguinte, onde também se inicia um trecho bíblico conhecido como Parashá Terumá, Deus convoca todo o povo a trazer doações, para que fosse construído o Mishkan, o Tabernáculo.

E a leitura deste texto se dá de forma contínua, não há interrupções. Conforme vamos lendo, a passagem parece correr sem nenhum esforço para o seu entendimento.

Entretanto, o rabino Rashi nos adverte que esta fluidez do texto é artificial, que não reflete a sequência correta dos acontecimentos.

Interessante, e até mesmo irônico, este comentário do Rashi também não é encontrado, no seu livro, na sequência, mas somente seis capítulos depois, no ponto em que Rashi acreditava que a narrativa bíblica deveria ter continuado, após Moisés ter subido ao Monte:

“E deu a Moisés (quando acabou de falar com ele no monte Sinai) as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus.” Êxodo 31:18

“A narrativa dos eventos na Torá não é sequencial. O [episódio do] bezerro de ouro precedeu ao mandamento para construir o santuário por uma significante quantidade de tempo. (Rashi Shemot 31:18)

Quais seriam as implicações de entender esta passagem desta forma como Rashi nos apresenta? Nós podemos dizer que o Antigo Testamento muitas vezes não segue a sequencia cronológica dos eventos, mas foi ordenado por temas.

Ler o texto na sequência sugerida pelo rabino Rashi, com o pecado da adoração ao bezerro de ouro ocorrendo antes da ordem para a construção do Tabernáculo, tem implicações teológicas com um ensinamento muito importante para nossa vigilância, que veremos mais abaixo neste estudo.

Quando, no Gênesis, יַעֲקֹב Yaakov, Jacó, estava a caminho da casa de seu tio Labão, em uma noite misteriosa ele se deita, adormece e sonha com uma escada em que os anjos de Deus desciam e subiam, do céu à terra.

Logo Jacó promete que a pedra que o serviu como travesseiro seria a coluna da Casa de Deus. Quando os Israelitas passaram pelo Mar Vermelho, eles cantaram uma canção que dizia:

“Tu, com a tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade.

Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da tua herança, no lugar que tu, ó Senhor, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram.” Êxodo 15:13, 17

As palavras da Canção do Mar Vermelho devem ser examinadas com atenção. Toda a nação Israelita profetizou, naquela ocasião, e as palavras que expressam a sua alegria e gratidão, claramente descrevem o conteúdo da visão que eles tiveram.

Eles viram os Cananeus fugindo de diante deles. Eles viram o seu futuro na Terra Prometida. Eles viram uma Habitação Santa, o Monte da Herança – eles viram o Santuário.

Os Israelitas cantaram e se alegraram sobre o Santuário do Senhor, o מִקְדָּ֑שׁ Mikdash, muito antes de haver um bezerro de ouro. Como podemos ver, nem o sonho de Jacó, nem a Canção do Mar apontavam para a construção do Tabernáculo – que era de caráter temporário.

Ambas referências apontavam para o בֵּית־הַמִּקְדָּשׁ Beit haMikdash, o Templo. Uma estrutura permanente na Terra Prometida, em um local específico, como o Templo que foi construído por Salomão.

Então, porque foi preciso um Tabernáculo? Por causa das centenas de anos que iriam passar entre a Revelação no Sinai, e a construção do Templo. E será que o o plano original de Deus contemplava que haveria tantos anos entre o Sinai e o Beit haMikdash de Salomão?

Enquanto que o senso comum entende que os Israelitas ficaram quarenta anos peregrinando pelo deserto como forma de punição pela incredulidade do povo, em resposta à maledicência dos espias, Rashi ensina que este não foi o único pecado que levou à esta sentença.

O episódio dos espias, relatado no livro de במדבר Bamidbar, Números 14, foi o clímax de uma congregação que insistentemente murmurava contra Moisés e o Senhor.

O próprio texto em que a sentença é dada (de um ano para cada dia em que os espias estiveram na terra, quarenta dias, portanto quarenta anos), está no plural, indicando mais de um evento pecaminoso.

“Segundo o número dos dias em que espiastes esta terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos, e conhecereis o meu afastamento.” Números 14:34

Sobre este evento, Rashi comenta:

“Quarenta anos: Ainda que o bezerro de ouro precedeu os espias, esta punição começou a se desenhar quando os Israelitas fizeram o bezerro de ouro, mas Deus esperou até que eles completassem a sua iniquidade [com o pecado dos espias].

Este é o significado das palavras, “porém no dia da minha visitação, visitarei neles [me lembrarei] o seu pecado””

“Vai, pois, agora, conduze este povo para onde te tenho dito; eis que o meu anjo irá adiante de ti; porém no dia da minha visitação visitarei neles o seu pecado.” Êxodo 32:34

O Pecado Tem Consequências

Assim, logo após a Revelação no Sinai, os Israelitas deveriam ter ido diretamente para a Terra Prometida. Desta forma, a visão que eles tiveram no Mar Vermelho, teria se cumprido.

Se eles não tivessem pecado com o bezerro de ouro, teriam ido triunfantemente para a terra que Deus havia prometido a seus pais, e teriam construído o Templo para a adoração, sem nenhuma interrupção – assim o Tabernáculo, uma estrutura provisória, não teria sido necessário.

O pecado do bezerro de ouro, na verdade, interrompe o fluxo da narrativa, interrompe a revelação, e leva à construção de algo temporário, fazendo que tudo se desenvolva de uma forma que não era para ser.

Isso nos mostra que no curso da história da nossa vida, as escolhas que fazemos influenciam e podem mudar o nosso destino.

Veja, no caso dos Israelitas, por causa do pecado, o Tabernáculo, uma “tenda de estrutura inferior”, foi construída, ao invés do Templo, o Beit haMikdash – uma estrutura superior e mais duradoura.

Embora, por causa da misericórdia divina, no Tabernáculo houve grande revelação de Deus, mas no Templo de Salomão a Glória foi ainda maior. E era dessa grandeza a revelação que Deus queria dar para o Seu povo em primeiro lugar.

Deus queria levar o Seu povo a construir o Templo no Monte Moriá, mas por causa do pecado, eles foram mandados para o meio do deserto por mais quarenta anos.

O texto está fora de sequência cronológica, para nos mostrar esta verdade. O homem faz escolhas, que podem modificar, atrasar e até mesmo atrapalhar os planos perfeitos que Deus sonhou pra nós.

“Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” Deuteronômio 30:19

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