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José do Egito é Vendido por Seus Irmãos

José foi vendido como escravo ao Egito. Seus irmãos mancharam seu manto com sangue de um animal. Eles trazem a túnica de José, e a devolvem a seu pai Jacó:

“Então tomaram a túnica de José, e mataram um cabrito, e tingiram a túnica no sangue. E enviaram a túnica de várias cores, mandando levá-la a seu pai, e disseram:

Temos achado esta túnica; conhece agora, {הַכֶּר נָא haker na}, se esta será ou não a túnica de teu filho.

E conheceu-a, e disse: É a túnica de meu filho; uma fera o comeu; certamente José foi despedaçado( טָרֹף טֹרַף יוֹסֵף tarof toraf Yosef ). Então Jacó rasgou as suas vestes, pôs saco sobre os seus lombos e lamentou a seu filho muitos dias.

E levantaram-se todos os seus filhos e todas as suas filhas, para o consolarem; recusou porém ser consolado, e disse: Porquanto com choro hei de descer ao meu filho até à sepultura. Assim o chorou seu pai” Gênesis 37:31-35.

Jacó se recusa a ser confortado pela perda de José do Egito. Há leis no judaísmo que estabelecem limites para o luto de um parente amado – shiva, sheloshim, um ano. Não há perda em que o luto seja interminável.

O Talmude diz que Deus adverte aquele que se enluta por mais tempo do que o previsto, “ninguém é mais compassivo do que o Eterno”, mas ainda assim Jacó recusa a ser consolado.

A Tradição Oral (Midrash) tem uma explicação muito interessante, “podemos ser consolados por alguém que faleceu, mas não por alguém que continua vivo”. Em outras palavras, Jacó se recusava ser confortado porque ele ainda não tinha perdido totalmente a esperança de que José estava vivo.

Mas em que se baseava a esperança de Jacó? Certamente ele havia reconhecido a túnica de muitas cores que ele mesmo tinha dado a José, e que estava manchada de sangue.

E Jacó disse explicitamente, “É a túnica de meu filho; uma fera o comeu; certamente José foi despedaçado ( טָרֹף טֹרַף יוֹסֵף tarof toraf Yosef). Mas estas palavras significam que ele reconhecia que José estava morto?

A Lei Antes da Lei de Moisés

David Daube (1909 – 1999), proeminente estudioso da Lei bíblica, sugere que as palavras dos irmãos de José, “conhece [הַכֶּר נָא haker na] agora se esta será ou não a túnica de teu filho”, tem uma conotação quase que jurídica, significando literalmente,“por favor identifique”.

Daube relaciona esta passagem à outra que possui significados linguísticos muito parecidos:

“Se alguém der a seu próximo a guardar um jumento, ou boi, ou ovelha, ou outro animal, e este morrer, ou for dilacerado, ou arrebatado, ninguém o vendo, Então haverá juramento do Senhor entre ambos, de que não pôs a sua mão nos bens do seu próximo; e seu dono o aceitará, e o outro não o restituirá.

Mas, se de fato lhe tiver sido furtado, pagá-lo-á ao seu dono. Porém se lhe for despedaçado [ טָרֹף יִטָּרֵף tarof yitaref ], trá-lo-á em testemunho disso, e não pagará o despedaçado” Êxodo 22:10-13.

A questão em jogo é a extensão da responsabilidade que um שומר Shomer, “guardião”, a quem é confiado a custódia e o cuidado com as propriedades de outras pessoas, deveria ter.

Se o animal fosse perdido por causa de negligência, o guardião estava em dívida e deveria pagar o prejuízo ao dono. Se porém não houvesse descuido do guardião, e ocorresse um inevitável acidente ou um “force majeure” (um evento que ocorre como resultado das forças da natureza), então o guardião era eximido de qualquer culpa.

Um bom exemplo seria uma perda causada por uma fera selvagem. As palavras da Lei, טָרֹף יטָּרֵף tarof yitaref “feito em pedaços”, é o paralelo perfeito para o julgamento de Jacó, no caso de José – טָרֹף טֹרַף יוֹסֵף tarof toraf Yosef – “José foi despedaçado”.

Sabemos que partes, como esta, da Lei já existiam antes mesmo da Lei ser formalmente dada ao povo de Israel através de Moisés. O próprio Jacó, quando era o guardião das ovelhas de seu tio Labão, protestou:

“Estes vinte anos eu estive contigo; as tuas ovelhas e as tuas cabras nunca abortaram, e não comi os carneiros do teu rebanho. Não te trouxe eu o despedaçado; eu o pagava; o furtado de dia e o furtado de noite da minha mão o requerias” Gênesis 31:38-39.

Sabemos também que o irmão mais velho tinha semelhante responsabilidade, como um guardião pela vida dos mais novos, principalmente quando eles estavam juntos, sem a presença do pai.

Esta era a significância da negação de Caim em relação ao seu irmão mais novo Abel, “sou eu guardador [הֲשֹׁמֵר ha-shomer “o guardador”] do meu irmão”? Gênesis 4:9.

E agora podemos entender uma série de nuances ocorridas no encontro de Jacó e seus filhos, quando voltam do campo sem José. Eles seriam considerados os responsáveis pelo desaparecimento de seu irmão mais novo, especialmente Rúben, que era o mais velho.

“Voltando, pois, Rúben à cova, eis que José não estava na cova; então rasgou as suas vestes. E voltou a seus irmãos e disse: O menino não está; e eu aonde irei?” Gênesis 37:29-30

Para evitar que fossem culpados, eles trazem os “restos mortais” de José (a sua túnica manchada de sangue), como prova de sua “inocência”. O seu pedido a Jacó, “conhece agora [הַכֶּר נָא haker na] se esta será ou não a túnica de teu filho”, é construída como um requerimento jurídico, “examine a evidência”.

Jacó não tem alternativas, a não ser absolvê-los, pois não há provas suficientes para poder condená-los, muito embora ele se recuse a acreditar totalmente no que seus filhos lhe disseram. De fato Jacó não acredita neles totalmente, e sua recusa em ser consolado pela suposta morte de José do Egito mostra que ele não estava de todo convencido.

Sonhos e Esperanças

Jacó tinha uma íntima esperança de que José ainda estava vivo, e mais tarde na história, pai e filho seriam novamente reunidos.

A recusa em aceitar ser consolado acorreu por diversas vezes na história dos hebreus. E o profeta Jeremias soube disso muitos séculos depois:

“Assim diz o Senhor: Uma voz se ouviu em Ramá, lamentação, choro amargo; Raquel chora seus filhos; não quer ser consolada quanto a seus filhos, porque já não existem.

Assim diz o Senhor: Reprime a tua voz de choro, e as lágrimas de teus olhos; porque há galardão para o teu trabalho, diz o Senhor, pois eles voltarão da terra do inimigo.

E há esperança quanto ao teu futuro, diz o Senhor, porque teus filhos voltarão para os seus termos”. Jeremias 31:15-17

E foi durante o exílio Babilônico em que a recusa em ser confortados foi organizada como uma das expressões mais pragmáticas da história bíblica:

“Junto aos rios da Babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião. Sobre os salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas.

Pois lá aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção; e os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma das canções de Sião. Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?

Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, esqueça-se a minha direita da sua destreza. Se me não lembrar de ti, apegue-se-me a língua ao meu paladar; se não preferir Jerusalém à minha maior alegria”. Salmos 137:1-6

Os Hebreus são um povo que se recusaram a ser confortados por quase dois mil anos, porque nunca perderam a esperança. Jacó viu José novamente. Os filhos de Raquel voltaram à terra prometida. Jerusalém é novamente a casa dos judeus.

Esta é uma poderosa lição de que nunca devemos perder a esperança, ainda que todas as evidências falem o contrário. Jacó não acreditou nas evidências porque ele tinha algo que se lançava contra todas as provas: Fé, confiança em Deus que é maior do que tudo.

José foi vendido como escravo ao Egito. Seus irmãos mancharam seu manto com sangue de um animal. Eles trazem a túnica de José, e a devolvem a seu pai Jacó: “Então tomaram a túnica de José, e mataram um cabrito, e tingiram a túnica no sangue. E enviaram a túnica de várias cores, mandando levá-la a seu pai, e disseram: Temos achado esta túnica; conhece agora, {הַכֶּר נָא haker na}, se esta será ou não a túnica de teu filho. E conheceu-a, e disse: É a túnica de meu filho; uma fera o comeu; certamente José foi despedaçado( טָרֹף טֹרַף…

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