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Deus Está nos Detalhes

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Na Revelação de Sua Lei no monte Sinai, Deus revela ao Seu povo o que ficou popularmente conhecido como os Dez Mandamentos.

Logo após, nos capítulos seguintes, o Senhor continua a revelar a Sua Palavra, mas agora, com muito mais detalhes.

Leis sobre a libertação de escravos, de reparação por danos sofridos, e também concernentes à propriedade, o que parece nos mover da sublime revelação, da total visão moral e espiritual, para um código menor que trata de assuntos aparentemente banais, da vida cotidiana.

Ainda assim, há uma profunda conexão entre eles. O rabino Rashi, um grande comentarista da Torá, faz um comentário que nos ajuda muito a compreender a relação entre o código mais abrangente (os Dez Mandamentos) e as micro-leis que se apresentam nos capítulos a frente.

“Estes [וְאֵ֙לֶּה֙ velleh] são os estatutos que lhes proporás [תָּשִׂ֑ים tashim].” Êxodo 21:1

A primeira palavra hebraica de Êxodo 21:1 é וְאֵ֙לֶּה֙ velleh, que significa “E estes”. A última é תָּשִׂ֑ים tashim, que significa “estabelecer”. Uma melhor tradução para este verso seria “E estes são os estatutos que lhes estabelecerás”, sobre o qual Rashi fez o seguinte comentário:

“E estes são os estatutos – sempre que a Torá usa a palavra elleh “Estes”, ela está sinalizando uma descontinuidade com aquilo que foi dito anteriormente.

Porém quando o texto usa em combinação as palavras v’elleh “E estes”, então está sinalizando uma continuidade.

Assim como os Dez Mandamentos foram dados no Sinai, também foram estes outros [menores] mandamentos dados no Sinai. Porque foram dadas estas Leis que regem a vida civil em justaposição às Leis que regem o culto?

Para mostrar que o Sanhedrin – a Suprema Corte – deve ficar próximo ao Santuário, o qual lhes estabelecerás”.

Essas notáveis palavras tem ajudado a delinear os contornos e trazer forma ao entendimento dessa passagem. Um princípio geral do entendimento é que se os Dez Mandamentos são divinos, então esses Estatutos são também de origem divina.

Os Dez Mandamentos trazem uma visão geral, mas resumida, da vontade de Deus para o homem. Mas o texto seguinte mostra a verdade de que Deus está também presente nos menores detalhes de sua palavra.

Princípios da Moralidade e Misericórdia

Deus está literalmente nos detalhes. É preciso ter fé e atenção, para poder percebê-lo. Muitos filósofos – Platão, Aristóteles, John Locke – tem tentado, através dos séculos, diminuir a importância da moralidade em apenas alguns princípios de caráter gerais:

  • Racionalidade;
  • Simpatia; e
  • Dever

Embora estes princípios sejam muito importantes, se nós quisermos que a moralidade seja algo que esteja presente nas bases de sustentação de uma sociedade, ela deve estar traduzida em um código com mais detalhes, de forma que se torne de fácil compreensão e acessível a todos.

Nós somos considerados pessoas morais, de acordo com aquilo que praticamos na vida diária, e também por aquilo que os outros praticam. Moralidade é como um idioma, e como tal, nós não podemos simplesmente inventar a nossa própria linguagem e esperar que possamos nos comunicar com os outros.

De modo semelhante, não podemos inventar a nossa própria moralidade, e esperar que vivamos de forma graciosa em uma sociedade em que se supõe que deveria – ao menos deveria – compartilhar de ideais semelhantes, de santidade e amor ao próximo.

É por isso que neste capítulo do Êxodo, e também pelos demais livros da Bíblia, Deus vai se revelando por meio de Suas Leis, porque são elas que formam os alicerces para o comportamento humano, como podemos ver no exemplo abaixo:

“Se tomares em penhor a roupa do teu próximo, lho restituirás antes do pôr do sol,

Porque aquela é a sua cobertura, e o vestido da sua pele; em que se deitaria? Será pois que, quando clamar a mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso.” Êxodo 22:26-27

Esta é uma lei feita especificamente para o ser humano. Superficialmente estamos aqui lidando com uma simples transação comercial. Alguém, para tomar dinheiro emprestado, deixa uma parte de sua roupa como garantia de pagamento. Era algo comum, ocorria muito na vida diária do antigo oriente.

Porém, a Torá insiste em dizer que, neste caso, não podemos esquecer que além da transação comercial, estamos lidando com a condição humana. O tomador do empréstimo pode ser pobre, e aquela pode ser a sua única peça de roupa para se proteger do frio da noite.

Quem emprestou o dinheiro, não pode se esquecer disso. Em termos legais, ele tem o direito de manter a posse da peça de roupa, mas uma sociedade que deseja justiça e moralidade não pode se basear apenas em direitos legais.

O texto bíblico adiciona os detalhes em que o tomador de empréstimo se justificaria. O próprio Deus fala acerca do pobre: “Será pois que, quando clamar a mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso.”

Deus, a fonte, o criador da Lei, não é um conceito abstrato. Ele se faz presente, direta e pessoalmente na vida daqueles que guardam os Seus mandamentos. E assim como Deus, que age com justiça, balanceada pela misericórdia, devem os Seus servos também fazer.

Agora, note como a Torá traz esse ensinamento. Ela não diz, de forma geral, “seja misericordioso”. Primeiro o texto bíblico nos dá um exemplo específico, detalhado, de como isso pode acontecer nos aspectos da vida diária, na prática de vida.

E como esse exemplo, há muitos outros. Em Deuteronômio, encontramos um cenário diferente:

“Não se tomará em penhor ambas as mós, nem a mó de cima nem a de baixo; pois se penhoraria assim a vida.” Deuteronômio 24:6

As Mós, são pedras duras, circulares que são usadas nos moinhos, para triturar grãos, até se produzir farinha. Eram ferramentas que o antigo homem do campo possuía para manter a sua subsistência.

A preocupação da Torá, aqui, é que alguém que precisa de um empréstimo pode não ter outra coisa de valor suficiente para oferecer como garantia de pagamento, exceto as ferramentas que ele usa para ganhar o seu sustento e de sua família.

E se ele as penhorar, pode estar entrando em uma armadilha, pois ficaria incapaz de pagar a sua dívida, e perderia o seu “ganha-pão”, o seu meio de sobrevivência, a sua própria vida.

Novamente o texto bíblico “pinta o quadro” de uma vida moral, por meio de ilustrações concretas, situações da vida cotidiana. Sem esses detalhes, como poderia se definir o que é moral, e o que é imoral?

Nahmanides traz uma bela explicação, enquanto comenta o mandamento de Deuteronômio 6:18:

“E farás o que é reto e bom aos olhos do Senhor” Deuteronômio 6:18 – é impossível detalhar especificamente a natureza da responsabilidade moral em cada uma das interações humanas.”

A vida é simplesmente complexa demais, e imprevisível. Por isso a Torá nos dá, por um lado, regras gerais, e, exemplos específicos e práticos, por outro lado, para que sejamos capazes de ver a moralidade em termos mais amplos, sem esquecermos das suas aplicações na vida real.

Afinal, Deus não está somente nas generalidades, nos chamados “mandamentos maiores”. Ele está também nos detalhes, nos menores mandamentos Seus.

“Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido.

Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus.” Mateus 5:18-19

É preciso entender a necessidade de cumprir os mandamentos, os ensinamentos do Senhor. Se amamos a Deus, nós então praticamos os seus mandamentos, sempre tendo em mente que a chave de interpretação é a vida e a obra do nosso Mestre Jesus.

Deus está nos céus, sim, mas nós o honramos aqui nesta terra, por meio de nossas ações. É sobre isso que é a Lei de Deus. A Lei em hebraico, na verdade, é a palavra תּוֹרָ֔ה Torá, que significa “ensinamento”, “instrução moral”.

“Este é o estatuto da lei [הַתּוֹרָ֔ה ha-torá], que o Senhor ordenou, dizendo: Dize aos filhos de Israel que te tragam uma novilha ruiva, que não tenha defeito, e sobre a qual não tenha sido posto jugo.” Números 19:2

E é através da nossa prática de vida é que mostramos a nossa fé. Se dissermos que temos fé, mas não praticamos as boas obras, ou seja, se falamos que temos fé, mas não cumprimos os mandamentos do Senhor, os seus ensinamentos, então a nossa fé é vã.

“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.

Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” Tiago 2:17-18

Na Revelação de Sua Lei no monte Sinai, Deus revela ao Seu povo o que ficou popularmente conhecido como os Dez Mandamentos. Logo após, nos capítulos seguintes, o Senhor continua a revelar a Sua Palavra, mas agora, com muito mais detalhes. Leis sobre a libertação de escravos, de reparação por danos sofridos, e também concernentes à propriedade, o que parece nos mover da sublime revelação, da total visão moral e espiritual, para um código menor que trata de assuntos aparentemente banais, da vida cotidiana. Ainda assim, há uma profunda conexão entre eles. O rabino Rashi, um grande comentarista da Torá,…

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